03 janeiro 2011

CRISTAL
Mariazinha Cremasco

Para qué me curaste cuando estaba herío
si hoy me dejas de nuevo con el corazón partío.
(Alejandro Sanz - Corazón Partido)


Fazia tempo que não se sentia assim.

Domingo amarelo de sol e não estava feliz.

Triste, ansiosa, preocupada. Saudades de um, preocupação com o outro, insegurança com um terceiro.

Pensava por quais caminhos seguiriam.

Ela há muito desistira de seguir o seu.

Uma força estranha a impedia. Como satisfazer seus caprichos, se já nem sabia mais o que queria?

Andava cansada de tudo. Da máquina fotográfica, do tricô, do computador, da cozinha, da televisão, da coleção de vídeos, dos livros, pequenas coisas que antes lhe davam tanto prazer. Até dos amigos fugia.

Estaria assim só por causa de algumas palavras? Palavras essas, ditas em uma noite, num trajeto infeliz? Ou seria o acúmulo das palavras amargas, ditas insistentemente durante longos anos?Ela não sabia. Sabia apenas do seu cansaço - desejava mudar, sumir, transformar-se. Que rumo tomaria?

Recomeçar tudo agora ela já não sabia. Para querer de novo, seria preciso ir embora antes que a esperança acabasse.

Ela percebe que pode ser coisa passageira e em breve estará sorrindo. Mas entende também que a dor do momento é grande e parece que jamais vai passar.

Tem medo, quer carinho e proteção. Acostumada a ser tratada como forte, não lhe dão o direito de sentir-se frágil.

Num fragmento de tempo se dá conta, que é ela quem não se dá este direito. É frágil mas tem medo de romper a figura criada.

Inveja a amiga, que faz do dia uma loucura. Que tem garra e força para enfrentar como fera os desafios. Vira-se em dez, faz úteis e não fúteis as vinte e quatro horas do dia.

Inveja? Palavra mais feia. Mas se ela existe, não admitir por quê?

Todos têm inveja, ainda que seja por um momento, de algo, de alguém.

Será que trocar é mudar? Covardia, medo do novo. Esperança de renascimento.

Insegurança com as duras palavras: "você não faz nada".

E ela nada fazia!

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