16 abril 2009

MÃES MORREM QUANDO QUEREM
Alexandre Pelegi

Eu tinha 7 anos quando matei minha mãe pela primeira vez.
Eu não a queria junto a mim quando chegasse à escola em meu 1º dia de aula.
Eu me achava forte o suficiente para enfrentar os desafios que a nova vida iria me trazer.
Poucas semanas depois descobri aliviado que ela ainda estava lá,
pronta para me defender não somente daqueles garotos brutamontes que me ameaçavam, como das dificuldades intransponíveis da tabuada.

Quando fiz 14 anos eu a matei novamente.
Não a queria me impondo regras ou limites, nem que me impedisse de viver a plenitude dos vôos juvenis. Mas logo no primeiro porre eu felizmente a descobri rediviva – foi quando ela não só me curou da ressaca, como impediu que eu levasse uma vergonhosa surra de meu pai.

Aos 18 anos achei que mataria minha mãe definitivamente, sem chances para ressurreição.
Entrara na faculdade, iria morar em república, faria política estudantil, atividades em que a presença materna não cabia em nenhuma hipótese.

Ledo engano: quando me descobri confuso sobre qual rumo seguir voltei à casa materna,
único espaço possível de guarida e compreensão.

Aos 23 anos me dei conta de que a morte materna era possível, apenas requeria lentidão...
Foi quando me casei, finquei bandeira de independência e segui viagem.
Mas bastou nascer a primeira filha para descobrir que o bicho "mãe" se transformara num espécime ainda mais vigoroso chamado "avó".

Para quem ainda não viveu a experiência, avó é mãe em dose dupla...
Apesar de tudo continuei acreditando na tese da morte lenta e demorada,
e aos poucos fui me sentindo mais distante e autônomo, mesmo que a intervalos regulares ela reaparecesse em minha vida desempenhando papéis importantes e únicos, papéis que somente ela poderia protagonizar...

Mas o final dessa história, ao contrário do que eu sempre imaginei, foi ela quem definiu: quando menos esperava, ela decidiu morrer.

Assim, sem mais, nem menos, sem pedir licença ou permissão, sem data marcada ou ocasião para despedida.

Ela simplesmente se foi, deixando a lição que mães são para sempre.
Ao contrário do que sempre imaginei, são elas que decidem o quanto esta eternidade pode durar em vida, e o quanto fica relegado para o etéreo terreno da saudade...

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2 Comments:

At 16/4/09 13:20, Blogger luamorzinha said...

Lindo, lindo!
Mãe é tudo nessa vida, né? Pelo menos a minha é.
;)

 
At 18/4/09 19:06, Blogger Vera Vilela said...

Como é difícil perder a mãe, quando eu era pequena achava isso a pior coisa do mundo, fui crescendo (mais ou menos como no texto, apesar de nunca a ter matado) e tantos problemas, e filhos, a mãe vai ficando em segundo plano, mas a gente sabe que ela está sempre ali. Agora que ela se foi um buraco se abre, uma sensação estranho de insegurança, uma decendência perdida, um elo quebrado e a certeza que de mim, agora, apenas o futuro, de mim para os filhos.
Beijocas e obrigada manamia.
Te amo!

 

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