Terça feira passada

Terça-feira passada
Estacionamento ao lado do Hospital São Caetano:

Entro com o carro. Desço. O manobrista sorridente vem com o tiquet e eu, estabanada como sempre, tropeço e quase caio.

-Nossa, acho que estou ficando velha mesmo...
-Velha, você? Velho é o mundo. Você está inteirona.

Atrevido, mas, de qualquer maneira, um gostoso elogio pra uma terça feira, não acham?
Sorri, agradeci, e fui embora.

Hoje, terça-feira, uma semana depois.
Mesmo estacionamento ao lado do hospital.

Embico o carro para entrar, o manobrista faz um sinal com a mão, dizendo que está lotado.
Ponho a cabeça pra fora, como dizendo: - eu preciso, estou em cima da hora -
Ele me olha, sorri, e diz:

-Entra! Não vi que era você. Não reconheci o carro.
-Ah... hoje estou com o carro do meu marido.

Entrei, deixei o carro de qualquer maneira, peguei o tiquet, agradeci a gentileza ( o estacionamento estava mesmo cheio) e saí com pressa para o hospital.

Na volta, como de costume, paguei e ele foi buscar meu carro.
Já quase saindo, ele vem do meu lado e diz, com ar de inocência:

-Desculpe aquele dia, tá?
-Oi?
-Desculpe, eu ter chamado você, uma mulher casada de "inteirona". Se eu soubesse que era casada, não teria falado. Mas você é inteirona...

Ele tentou dizer mais alguma coisa, mas interrompi.
Tive vontade de dizer à ele que gostei do elogio, mas apenas sorri, e fui embora.
O dia tinha sido pesado demais, o assunto a ser tratado no hospital foi difícil (sobre meu pai). Mas será que ele entenderia se eu dissesse que o sorriso e o elogio me fizeram bem?
Achei melhor nada dizer.
Na verdade echo que eu deveria ter dito:

-Você é um adorável mentiroso!
(certas mentirinhas nos fazem muito bem)